Wednesday, October 10, 2007

Capicua

Palindromes de Todd Solondz
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Um palindromo é aquilo a que nós chamamos vulgarmente de capicua - uma palavra que se lê da mesma forma da frente da trás e de trás para a frente. Aviva, a personagem principal, é um palindromo, uma capicua, se preferirmos.
Existe no filme uma ideia : a de que existe algo nas pessoas que é imutável. E esta é uma das questões que mais me deixou a pensar, e não a ponderar o tema do aborto ou da pedofilia. E aqui Todd Solondz apresenta a personagem principal como uma espécie de contradição com a ideia-base: não é uma, mas são várias, todas a mesma, o mesmo nome, Aviva, diferentes corpos e cores de cabelo. São 8 ao todo. No fundo é a metamorfose da personagem que mantém a sua constante ao longo da história. Da menina negra adoptada com uma meia-irmã suicida,para a jovem anorética, a negra obesa, a disléxica, o protótipo de uma forma de rejeição social, de uma falência de estereotipos. Que torna, a meu ver, o filme muito mais viciante.
À direita revindicarão o rótulo de filme sobre a pró-escolha, enquanto que à esquerda será catalogado como filme pró-vida. Diferentes pontos de vista que não estão completamente correctos nem completamente errados, e o filme não é tão linear nem tão redutor quanto isso. Existem personagens riquíssimas como a mãe (belíssima interpretação de Ellen Barkin) ou Mama Sunshine (que acaba por induzir mais uma irritante comichão que um sentimento de empatia) , simultaneamente despertando sentimentos favoráveis e de desconfiança.
Mais do que a temática da pedofilia ou do aborto ou dos estereótipos abordados ou da América do pós 11 de Setembro ou da religião ou dos sexo entre adolescentes ou do racismo, foquei-me no tema cliché do amor (claro que eu interpreto tudo de forma tendenciosa, mas enfim). Cada um de nós procura ser amado por alguém e ter alguém para amar. E procuramo-lo desde o momento em que vemos a luz pela primeira vez.
E fica a ecoar na cabeça uma das frases mais marcantes do filme: "Ainda há esperança?".
À passagem dos créditos finais, admito: ficou-me um travo agridoce debaixo da lingua. Não sabia precisar se gostei ou não do filme. Passado já algum tempo, acabei por formar uma opinião mais precisa. E a apreciação é verdadeiramente positiva. Acaba por ser um dos filmes que mais me marcou nos últimos tempos. Mas a verdade é que não tenho tido muito tempo para dedicar ao cinema. Guilty old me ...


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