
Chega-se ao supermercado e escolhe-se a cor. Acobreado parece-me bem, sempre é bom para variar e faz bem à auto-estima de uma miúda.
Chega-se a casa, abre-se a embalagem, calcam-se as luvas e toca a impregnar todo o cabelo com aquela coisa pastosa de cor duvidosa («o meu cabelo não vai ficar assim azul, ou vai ???») , madeixa a madeixa, massajar todo o couro cabeludo, deixar actuar durante meia hora. Passar por água e voilá … Quase que passava por ruiva se o meu cabelo não fosse tão escuro que a cor final ficou bem aquém da prometida no pacote.
Nos primeiros dias somos os donos do mundo … afinal, temos uma nova cor de cabelo, somos praticamente intocáveis («Are you talking to me, punk ???). Toda a gente repara e a quem não repara fazemos questão de fazer notar que não, já não sou morena, agora sou morena com laivos ruivos no cabelo. Mudança radical, diria abusando do sarcasmo.
3 lavagens depois e já a cor inicial foi deturpada, não é carne e não é peixe, é qualquer coisa ali no meio, difícil de catalogar. Cor de burro quando foge …
6 a 7 lavagens depois e já pouco resta do que antes foi uma intensa e radiante cor acobreado. Mais uns dias e só sobraram vestígios que, certamente, acabam por se esbater com o tempo.
Ora … ou eu ando desencantada com a parca duração das tintas para cabelo ou bem me parece a mim encontrar aqui um paralelismo com a maioria das relações dos dias que correm (se disser que são as minhas relações isto torna-se demasiado intimista e depois há gente que pensa que me conhece muito bem. Cito agora o honorável Jorge Palma nas suas mais célebres palavras «Deixa-me rir …»). Adiante !!! Falava em paralelismos . E este parece-me fazer sentido, ou então it’s all inside my head e se calhar para a próxima dou mas é um bom corte em vez de andar com estas coisas abichanadas de mudar de cor.
O mercado é vasto, escolhe-se a melhor vítima. Para uns há possibilidade de escolha, para outros menos afortunados há que se contentar com o que há ou o que resta. É a pirâmide da vida, os mais fortes comem sempre os mais fracos, a não ser que já estejam de barriga cheia. A vítima vem na embalagem, e disto eu já falei num post recente. As máscaras, o que parecemos, quem vê e quem VÊ, blá, blá, blá. Todos vimos encarcerados em embalagens, umas mais apelativas do que outras, há quem nasça abençoado e quem tenha que passar uma vida inteira a lutar contra estigmas. É um mundo de aparências : Get used to it …
Escolhida então a embalagem, ou a vitimização do feliz seleccionado, leva-se para casa e quanto à parte do impregnar deixo ao critério da vossa imaginação. Não pretendo entrar em detalhes, ou seria este post censurado com bolinha vermelha ao canto. Nos primeiros dias é uma alegria, queremos mostrar que apanhámos novo peixe na rede, algo que faz maravilhas ao ego, afinal que se lixe o peixe, o que importa mesmo é que ele mordeu o isco, e é o novo troféu a exibir nestas competições que de piscícolas têm muito pouco, só mesmo o componente metafórico. Ou como diz uma grande amiga, nestes primeiros dias «WE ARE DA GREATEST !!!».
Ao fim de algum tempo o verniz começa a estalar, já nem tudo nos parece um mar de rosas, entramos na fase descendente da curva, e a partir daqui é sempre a descer. Atira-se o peixe já meio morto ao mar, outros com fome que o apanhem.
O que vale é que há muito peixe no mar, ou na língua universal, «There’s plenty of fish in the sea». Que comece a pescaria, que é como quem diz, qual é a cor de cabelo que me apetece agora ?
No meio de tudo isto eu pergunto … onde é que fica aquele amor arrebatador dos nossos avós e de (alguns) dos nossos pais que dura pela vida fora, até que a morte os separe ??? É impressão minha ou o amor do século XXI tornou-se mais curto, mais efémero, passageiro ? … As long as it lasts …
E qual foi exactamente o momento preciso em que o amor eterno morreu ??? Foi com a emancipação feminina nos idos anos 10/20? Será que foi da validação legal do divórcio? Foi da histeria colectiva gerada em torno de Elvis Presley ? Foi aquando da revolta contra a rigidez de conduta imposta pelo catolicismo ? Será que a revolução industrial teve alguma influência ao iniciar um movimento de desertificação rural em detrimento de uma sobrelotação urbana ? E nesse caso… o amor nas vilas e aldeias dura mais que o amor nas cidades? Foi culpa do surgimento dos métodos contraceptivos ? Foi do flower power dos anos 60/70? Terá sido causa dos muitos 25 de Abril que ocorreram por esse mundo fora, livrando as ditas sociedades civilizadas de regimes ditatoriais e opressivos ? Foi das novas técnicas de inseminação artificial que tornam os homens dispensáveis no acto da procriação? Foi do free love and sexual freedom dos 80s?
Da igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres (perfeitamente discutível, mas pronto … teoricamente existe )?
Então isso quer dizer, em termos matemáticos, que um incremento de liberdade é inversamente proporcional ao crescimento do amor ?
Então para haver amor como havia antigamente temos que nos privar do direito à liberdade? Mas isso é amor? Amor preso, encarcerado … Ou será que no fundo não era falta de liberdade mas sim excesso de ignorância ? Se calhar naqueles tempos não se tinha bem a noção dos limites da liberdade, e pior, estes não eram sequer questionados.
Mas então …
O crescimento do amor é inversamente proporcional à aquisição de conhecimentos, à alfabetização … à cultura ?
Para amarmos em amor eterno, o amor para sempre, até que a morte a esse amor imponha um fim … temos de ser burros ??? Hi OH… Hi Oh …. Estou completamente baralhada !
E eu … já era nascida quando o amor morreu???
Nesse caso eu penso … triste época para se ter nascido. Triste, de facto …
P.S.: À última da hora desisti do acobreado e optei pelo vermelho pulse . Seja lá o que isso for. O acobreado terá que ficar para uma próxima oportunidade .

17 comments:
Nos dias que correm é um imenso previlegio ser a primeira a colocar um comment num dos teus posts :P (kidding)
Pois bem cara amiga, já me tinhas falado em linhas gerais... tenues mesmo diria desta tua... associação?!?!? Mas visto, lido e relido... a minha humilde vénia a quem por direito merece e gritado em plenos pulmões e bons como os meus... YOU ARE THE GREATEST!
Já agora abençoada hora que não escolheste acobreado porque o meu acobreado tá um valente merda... mais giro era o meu violino pepsi motivo pelo qual estou ainda hoje em vias de ser excumungada da parte Jet da familia.
Sortuda...eu não estava em casa e amuei... prontos ! A partir de agora é assim : vou ser o 3º ou 7º a colocar comments ( e se não chegarem a esse número vou...mandar uns como anonymous até perfazer a quantidade prevista...)
Que se lixem ( estão a ver : amuei mesmo...acho que nunca usei uma palavra assim nos comments...) as aparências...o que conheço de vossemecês é o que leio...nem cobre nem pepsi nem verde...and I like it...! ( amuo...)
Nã...nã...nã...estou completamente inflexível...time is on my side...e tempo para esquecer ? Não contes com menos de...
mister b. I`m sorry... shame on me... such bad girl... é do paracetamol, eu hoje estive parva de todo. As minhas colegas levaram a perguntar: O que é que se passa contigo hoje???
Eu falava pelos cotovelos... geralmente eu sou a calada! :)
...um segundo ! Ih!ih!ih!ih! - riso satânico em sentido invertido
ahhhh ok assim fico mais descansada
Será questão de século, Catarina ?De cultura ? De liberdade ? Sinceramente não sei se não há coisas que não mudam muito ao longo dos tempos...Amar perdidamente, amar loucamente, amar fielmente, amar até à morte, amar simplesmente, amar os amigos, amar a ideia de amar, amar até morrer, morrer de não amar,etc., são situações de todas as épocas, acho eu. E em todos os tempos, o amor foi traído, abusado, deturpado, afastado, trocado, ignorado, encurtado pelas mais mesquinhas razões. Ou simplesmente porque acabou... E em todos os tempos, homens e mulheres se interrogaram, maravilharam, enlouqueceram, morreram, mataram, suspiraram, viveram, perdoaram, mudaram, transformaram-se por, para o amor.E as coisas mais simples são as mais complicadas de perceber por vezes.Nenhuma época é triste para se nascer...só o será quando não houver pessoas como tu que se interrogam e buscam respostas para aquilo que realmente interessa...não a cor do cabelo ou a ( tenho de ir ver ao teu post pois não percebo nada do assunto...já volto...)caixa de tinta para o cabelo...mas o resto...o amor, por exemplo.Quando toda a gente se interessar só pela cor do cabelo ou coisas do género, então é que este mundo será um sítio triste para se viver...
Sim, mas o que me preocupa é que antes o amor era encurtado e hoje somos nós que encurtamos o amor.
Ou se calhar não é amor coisa nenhuma e ele é cada vez mais raro, ou então nós é que o deixamos escapar por entre os dedos. E agora veio-me à cabeça a imagem de uma ampulheta. E o tempo passa e deixamos escapar o amor.
Realmente isto tem muito pouco a ver co a cor do cabelo...
Mas essa realmente está mudada ...
O resto é que continua na mesma ...
E eu cada vez mais confusa...
2 many questions
Nós...We The People ? É bom, acho eu, uma pessoa fazer perguntas...qual o problema ? E tentar encontrar respostas também é bom.Às vezes penso que as palavras não são capazes de nos dar respostas : só a experiência concreta das nossas vidas...a ampulheta passa e depois ? Contra isso nada podemos fazer...confusa ? Só mesmo quem não pensa nestas e noutras coisas é que não sente confusões...
" Sometimes I'm thinking that I love you / but I know it's only lust..." (Gang Of Four)
Sim ,às vezes, o que é aquilo que pensamos que é amor ?
Pode não ter nada a ver, mas já deves ter lido o meu comment do post a seguir (acho eu...Rosie...)
Esse "Amor" dos tempos dos nossos Pais e dos nossos Avós não existe. Sim, é um grande mito...
E, se as relações hoje são curtas, efémeras, sem sentimentos e sim carregadas de impulsos homonais, que assim sejam. Pelo menos não são hipócritas, como aquelas tantas que que existiram nesse tempo de que falas e que já não é o nosso!
Agora, se o "Amor" existe? Não sei. Mas, há dias como ontem à noite que me fazem crer que sim. Porquê ontem à noite? Porque andei sozinho, à chuva.. aqui pela cidade... a chapinhar nas poças tal uma criança de 5 anos. E, hoje estou com uma bela de uma constipação!
Será isso Amor? Sonhar.. sentir... o pulsar da vida.. as pessoas..TODAS! que nos rodeiam... Aquelas pequenas coisas, como um sorriso, um "Olá"? E... talvez no meio dessa imensidão, encontrarmos alguém que caminhe conosco, sob pingos de chuva. Talvez nunca encontremos esse alguém. Mas pelo menos sonhamos.. e é o "sonho" que comanda a vida!!! No fundo.. Amar, é uma escolha que fazemos no nosso "caminho". Algumas, raras, conseguem caminhar (entenda-se tambem Amar), com alguém ali mesmo ao lado.. no mesmo "passo". Outros não!
Bem, ouve aqui um problema de postagem... LooL
O que tentava "debater" é o Individualismo que reina nessas tais relações, chamemos-lhe... superficiais: não serão esses relacionamentos, apenas formas individuais de prazer? Na minha opinião é um pouco do que se trata. Dá-se cada vez mais uma importancia extrema ao impulso hormonal... ou seja..à irracionalidade animal... O que, defenitivamente não é Amor.
Cultiva-se a Aventura.. o "Engate", a noite passageira... Ou o relacionamento instataneo... que dura o mesmicimo tempo que dura a nossa necessidade.
Amor!? Quem sou eu para falar nisso? Eu, que nunca tive uma "relação"?! Há quem me acuse disso... de não ter moral para divagar sobre "Amor". Aqui fica o contributo para a discussão de um gripado! Depois de Uma noite longa.. à chuva... E, depois... noite dentro.. já de manhã.. a ver "A Love song for Bobby Long"... em português... Uma canção de Amor! Ora aí está.. o que é Amor.
Só mais uma coisa.. encontrei o Blog, ao carregar naquele botãozinho na barra do google que existe no cimo de cada bolg e que diz "Next Blog". LooL Enfim.. é o que dá não ter aulas à Sexta, estar tudo ainda a dormir cá em casa... estar no inicio do semestre e nao ter nada para fazer! Bom blog! E.. continua aí a post'ar! :)
Bem...é capaz de ser uma questão de terminologia...eu sei o que sinto...e o que sinto, será por ser teimoso..?, não se apaga com um simples sopro, com uma noite ocasional...é amor ? Seja...é um atavismo que vem do tempo de avós, pais...? quero lá saber...é amor ? é outra coisa qualquer ? I don't care : é uma vontade de estar com alguém, vontade essa que volta todos os dias ; de estar, e mais nada...sim as hormonas também têm o seu papel, tudo bem...mas...e fico por aqui...Acho que, com o espírito que me ocupa hoje, vou acabar a dar ideias para aqueles caramelos que faziam e vendiam aqueles cromos do " Amor é..."
E no comment anterior, queria acrescentar isto e esqueci-me :
" Take me out tonight...Where there’s music and there’s people...
Take me out tonight...
Take me anywhere, I don’t care...There is a light and it never goes out..."
Por agora , é essa a minha definiição de AMOR...obrigado Morrisey...
E ainda me esqueci disto : do D. Quixote...porquê ? Que tem ele a ver com isto ? Nada e tudo...O cavaleiro que criou um mundo a partir de livros ou foi ao contrário ? Na sessão falhada do filme do Orson Welles, fiquei contente quando se viu o Orson a dizer que D.Quixote não é uma figura cómica que deva suscitar o riso...e a porra da sessão acabou por aqui abruptamente... O problema do mundo de Quixote é que ele é o seu único habitante...o mundo é só dele... e todos os outros não conseguem viver a verdade de um louco que acredita em algo...no amor inclusivé. Mas como eu digo, não é só o amor que está em causa...é tudo e nada...
Um link para o texto de Unamuno " O sepulcro de D. Quixote" ( em castelhano e inglês )que serve de introdução a um livro dele que está por aí com o título "Vida e morte de D. Quixote e Sancho ":
http://www.donquixote.com/sepulcro.html
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