
Raios, que isto de acordar nestes dias depois da farra é complicado e tem que se lhe diga. Tudo à volta parece distorcido, alterado, fomos transferidos por umas horas para uma realidade paralela em que as coisas estão nos mesmos lugares, as pessoas são as mesmas, mas tudo carrega um trago amargo, um arroto em seco, um certo mal-estar.
Tentando acertar palavras desconexas, imagens esfumadas, meio a medo, nos seus devidos lugares, começo a pensar: «O que é que aconteceu mesmo ontem à noite?». Se calhar é melhor nem lembrar, duas vodkas e eu deixo de ser eu, e os gestos fluem de forma muito pouco natural em mim. Nasce então a sensação de desconforto. Começam a surgir vultos cinéticos na memória, e em acto reflexo levanto as mãos ao rosto e aperto a pela com força até magoar. «O que é que eu fiz mesmo ontem à noite?». Se calhar é melhor nem relembrar. Os sinais e sintomas encontram-se expressos nos músculos, ossos e tendões, reclamando merecido descanso, e na cabeça de chumbo que teima em não se manter direita. Uma ligeira pontada faz agora questão de me oprimir a consciência : uma mistura em partes quase iguais de gozo e vergonha. Se eu pudesse matar a consciência, em morte lenta e agonizante, como paga de tanta tortura que faz questão em me fazer passar.
Foi do álcool ??? Que me deturpou os sentidos e, em brevidade insane, me fez esquecer o que ando à procura? Com certeza não é nada daquilo. Não… não é …
Mas duas bebidas e que se lixem os pseudo-melancolismos, os estados de espírito exacerbadamente bucólico-depressivos e as inquietudes folk-românticas. Nas palavras de Mário de Sá Carneiro : «Ópio de inferno em vez de paraiso? Que sortilégio a mim próprio lancei? Como é que em dor genial eu me eternizo? Nem ópio nem morfina. O que me ardeu, Foi álcool mais raro e penetrante: E só de mim que ando delirante, Manhã tão forte que me anoiteceu.»Ou como li aqui há uns tempos « um pouco de álcool e a picada desaparece, é verdade, desaparece». Faz agora sentido.
E no fim de tudo isto, o que é que resta afinal? Tinhas razão, miúda. Um vazio. Um medonho conteúdo oco em amplificação sonora, débil como só a maior das fragilidades humanas, um descuido e vêmo-lo quebrar em incontáveis estilhaços de vidro, e o ruído ao partir torna-se quase insuportável.
E a cada novo abrir dos olhos tudo parece diferente porque, talvez, tudo tenha mesmo permanecido igual. As mesmas perguntas sem respostas, os mesmos problemas sem soluções, as mesmas procuras que levam a nenhures, e a nenhum, as mesmas ânsias desprovidas de significados. E eu estou sempre à espera que algo mude. Por experiência própria vos digo : a metamorfose nocturna não é mais senão um mito, cuja sobrevivência se restringe à em demasia fértil imaginação de seres estupidamente enraizados no sentimentalismo dramatizado e na credulidade. Às cegas.
Estou-me eu então oficialmente e tornar incrédula? Não creio ter chegado ainda a um ponto sem retorno. Não é possível aos 22 anos ter chegado a um beco sem saída… ou será??? «O que é que eu fiz mesmo ontem à noite ?». Se calhar é melhor nem voltar a relembrar.

7 comments:
É o mesmo vazio que tento camuflar, que volta sempre... não há hipótese. Que se procura? Já tentei me responder a isto milhentas vezes, mas nunca encontro resposta. Que ninguém ma dê, porque não será resposta para mim.
Fui acordada às 7 da tarde e perguntava-me onde estou? o que aconteceu? onde estive ontem?
então é isto...
para a próxima enfrasco-me a sério para ver se dói a sério!
ah e descansa ninguem se mete em becos aos 22...
amanhã verás tudo com outros "olhos" é só quereres... digo eu... deve ser
Um grande abraço (...uma ousadia ...) para vocês as duas...
( words fail me again...but I think you know the words I just can't say now... )
:P ousadia ou não venha ele... um grande abraço
Daqueles prolongados....
Que não apatece deslargar ...
A feeling of security ... nothing in the world could ever touch me ...
Abraço retribuído :)
No beco já eu me sinto à muito tempo amiga.
Só que por enquanto tenho estado de costas para a parede, voltada para o caminho pelo qual até aqui cheguei.
Por isso é que eu digo que nao atingi ainda um ponto sem retorno.
The only problem is ...
o caminho por onde vim, já eu o conheço e temo que vá dar a lado nenhum... Been there, walked through the path ... know exactly what's waiting 4 me across the way.
E eu não sei se me apatece lá voltar...
Oh! I say it again...you 2 are so vicious...you hit with flowers and such nice things...
Claro que não Catarina : ponto sem retorno ? Bem. agora vou ter de ir para a rádio : um dever qualquer chama-me e não se chama programa...
Later...we'll talk more...
Hope so ...
Post a Comment