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Admiro os livros abertos porque os meus sempre os fechei a cadeado e engoli as chaves. Eu posso cortar o cabelo vezes sem conta, mas há mudanças de difícil digestão. E acomete-me a sensação de um peso morto que escorrega milimetricamente pela garganta durante uma noite inteira. Sinto-o pulsar por baixo, na polpa dos dedos, ao compasso do batimento vital. O ar em sucção bloqueia-me a garganta e sou fustigada por sucessivos ataques de asma. Cessa-me a respiração por breves instantes. É como mergulhar em apneia, no escuro, de olhos fechados. Quantas vezes, enlameados no vértice língua, quase cuspidos, os pedidos de ajuda. Eu magoo-me sempre nos silêncios. Não nos dos outros, mas nos meus.
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4 comments:
Tu ao menos tens a coragem de, mesmo de uma forma velada e evasiva, deixar o teu SOS no blog... eu nem para isso me sinto à vontade. Tenho um longo caminho a percorrer antes de resolver os meus problemas de comunicação :(
A sadly beautiful post.
conseguiste com este post contrariar precisamente aquilo que nele dizes :) o que é bom, porque os livros têm que ser abertos de vez em quando, para respirar*
E ando a ver se consigo arejar os meus antes que ganhem caruncho. Passaram muitos anos na prateleira a ganhar pó e sem que ninguém lhes tocasse. Os meus apelos são sempre mudos. Nunca ninguém repara neles. Aos poucos vou-me tornando mais incisiva.
começa a partir loiça ;)
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