Pequeno almoço num outro planeta

Breakfast on Pluto de Neil Jordan

O meu profundo agradecimento a quem sabia da minha imensa vontade em ver este filme e o descobriu, sorrateiramente, escondido na sempre impensável prateleira.

Dar-se ao luxo de acordar e tomar um pequeno-almoço num planeta longínquo (que agora parece que já não é planeta nenhum) não é dádiva para qualquer um. É exigência absoluta o viver-se num outro mundo. Um mundo à parte do nosso, onde não cabem conflitos ou preconceitos e onde todos os dias são enfrentados com um sorriso. Existem múltiplas vias de escape à realidade, e a forma mais honrada de evitar a negação é inventar caminhos paralelos, nos quais as ruas são as mesmas e as pessoas são as mesmas, só que ... diferentes. E por esses caminhos despontam rosas vermelhas, e o amor existe ainda que não seja eterno. São caminhos marcadamente femininos, com lábios pintados de cores extravagantes e ridículas discussões acerca de vestidos e bailes de liceu. E para quê sucumbir à soturna e violenta realidade? Como diz Kitty rir para abafar as lágrimas.

Emoldura o filme um fantasioso e deslumbrante cheirinho a Oscar Wilde. Ainda que saibamos que, na verdade, os contos de fadas não existem . E a banda sonora é divinal, oscilando entre temas dos anos 50, 60 e 70. A fotografia presenteia-nos, por vezes, com imagens de extrema beleza. A personagem principal, "Kitty", é magistralmente representada pelo ainda pouco conhecido Cillian Murphy, e certamente que deve apaixonar tanto rapazes como raparigas, o que nos pode deixar um pouco confusos. Mas isso só torna o filme ainda mais delicioso.