Acordou-me com violência das puras manhãs emolduradas de silêncios mais dilacerantes que todos os ruídos do mundo em explosão simultânea. Chamou-me por um nome de criança avessa a terrenas simplicidades, fez-me chorar e rir na conjuntura imperfeita de uma mesma frase de terra e barro modelada na aresta dos lábios. Contou-me que ser humano não fazia mal nenhum e era um direito que me assistia. Do nervosismo de mãos incertas doou, sem restrições, um amor absoluto e prometeu amar-me absolutamente. Ensinou-me a não ter medo do momento em que a noite embarcava nos cantos da minha boca, de onde escorria, em pequenas vertigens, o sabor salgado de lágrimas insolúveis, que encrostavam geometricamente nas palmas das mãos em cristais brancos e aguçados. Feriam-me a pele em chagas e sangravam um muco espesso da cor do lodo. E a única beleza que se lhes encontrava era soluçada em meias palavras ácidas e crespas, cuspidas da voz embargada do choro.
Hoje, enquanto a noite se aninha em torno dos meus dedos mal feitos, sussurra-me segredos recônditos ao ouvido: "Vem. Vou levar-te a passear de mãos dadas".
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