Monday, May 21, 2007

Nas folhas brancas feitas de papel

No âmbito do VI Encontro Internacional de Poetas, que se realiza entre 24 e 27 de Maio, pelas ruas da cidade circulam poemas em folhas brancas de papel, distribuídas ao acaso nas mãos de quem passa, desabrochando sorrisos nos poucos que arranjam tempo para passar os olhos acelerados pela meia dúzia de linhas impressas nas ditas folhas de papel. Brancas. Às mãos veio-me parar uma dessas folhas (brancas e de papel), no meio de um café e um copo de água apressados na esplanada do TAGV, descobriu-me o sorriso que se encontrara escondido durante todo o dia, por trás das nuvens que tornaram o dia cizudo. Ou não se tratasse de poesia. Ou não se tratasse de um dos meus poetas de eleição.
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A festa do silêncio
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"Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se de ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o arprolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta."


António Ramos Rosa

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