Envolvo-me o corpo em trapos emproados de faz-de-conta, assombra-me um molho de insectos que me dançam no estômago desde que os olhos despertaram, preguiçosos e cobardes em enfrentar mais um céu pincelado de brancos e cinzentos. Acompanham-me outros tantos, debulhados a risos descarados e palavras ruidosas vindas de tantas direcções que se confundem numa encruzilhada verbal, inevitavelmente trespassada pela música que flui entre nós, absurdos e desregrados, tão estridentes que mal damos por ela. Então deixo-me ficar, conduzida pela melodia das palavras atiradas e escorridas pelas paredes, umas empilhadas nas outras, em turbilhão feroz e descompassado, muito poucas restam na ínfima porção da memória que não se afogou no fundo do copo de gin. O estômago continua revolto e não me lembro do caminho para casa. Os passos acariciam o silêncio violado aqui e ali pelo surdo ranger das tábuas de madeira gastas por outros passos descuidados, estrondosos. Repousar, enfim. Sentir queimar, vagarosa, a ausência da outra metade do corpo que vagueia, também desnuda, por outra ruas que não as minhas.E quando o sono finalmente chega no embalo soluçado de um choro de criança, adormecer com o coração embrulhado nas mãos, à distância de meia dúzia de palavras mortas que chegaram tarde demais.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
mi chica!!!
há coisas em que eu te conheço como as palmas das minhas mãos... oh! oh!
mas tu ainda achas que me enganas?
foi magia!!!
lembraste disso, suponho... batias palminhas com o ar mais adorável do mundo (e geralmente a das palminhas de contentamento sou eu)
mas elas chegaram... isso é que importa!
Post a Comment