Sunday, May 21, 2006

Poema # _

Ecos


Habitando os cafés
e refletindo as manhãs
com restos da noite,
ambientou-se ao não-ser,
traçou a inexistência,
ficou entre parênteses.
Silente e absorto,
refez os becos
de um dia oco e pesado.
Inquieto,
alimentou-se de acasos:
sorveu as praças,
a cinza das chaminés
e amargurou-se com o lamento
pulverizado dos meninos
da grande cidade.
Chorou a salobra
segunda-feira,
feita de vagidos
e tormentos
.
Desse modo,
por muito tempo,
passou a repetir
as noites,
nos olhos avulsos

do esquálido cão,
que cismara em perseguir.
Um dia,
ao tentar recompor sua história,
morreu de esquecimento.

Francisco Perna Filho

"Alguém vendo o tempo passar"

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