Friday, December 02, 2005

A moral da dívida


Procuramos seguir o conselho de Polônio a seu filho Laertes, em Hamlet:

Não empreste nem peça emprestado, quem empresta perde o amigo e o dinheiro, quem pede emprestado já perdeu o controle de sua economia”.

Mas qual de nós não precisou, um dia, recorrer a alguém para o leite das crianças? Qual de nós não teve o prazer de emprestar a um amigo em dificuldade?

E assim nos vimos diante do dilema da dívida.
O pagamento das suas dívidas é o resgatar da sua dignidade. Com dívidas em atraso, especialmente com os que lhe são próximos, não se pode considerar digno perante si, quanto mais perante os outros. E a estes, os outros, como poderá erguer a cabeça e olhar de frente, olhos nos olhos, sem vergonhas ou receios, ciente de que não deve nada a ninguém?

Há dívidas e dívidas.
Em geral, devemos a amigos, pois são os que nos têm em conta e nos dão crédito. Essas são dívidas que não podemos deixar de pagar. Dívida para com algum parente é assunto familiar. Com o patrão, é adiantamento.E se devemos a um banco? Essa é uma dívida fria, sem envolver sentimentos. Essa dívida podemos contestar, renegociar, adiar, já que vamos arcar com as conseqüências. Dívida é coisa de que ninguém escapa.

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