Wednesday, December 21, 2005

Christmas @ my place



Todos os anos é a mesma coisa… quando eu penso que finalmente vou poder passar um Natal calmo e depressivo a ouvir Jeff Buckley, Khonnor, Nick Drake, tudo coisas muito folk como me dá para ouvir nestas alturas, lá me vêm com o «No dia de Natal vem cá X almoçar a casa, ou na véspera vamos jantar a casa de Y, blá, blá, blá…» . Why can´t they leave me alone on Christmas Eve? Why, why, why? Porque é que não posso simplesmente ficar sozinha à lareira a ler Charles Dickens e a beber cappuccino? Porque é que para esta gente Natal é festa?
Eu fico sempre sentada no sofá a ver um dvd qualquer. «Tens mesmo que ver essas coisas estranhas?» E eu pergunto: «Qual é o mal do Lost in Translation?».
Depois é a música clássica de fundo. A minha mãe até nem gosta de música clássica. Mas acha que Tristão da Silva ou o Greatest Hits dos Abba não são indicados à ocasião. Se eu ouço de novo o «Chiquitita U and I knoooooowwww…» começo a fazer pontaria com o prato das rabanadas. E a meio alguém muda o cd e põe Franz Ferdinand. «oh whn I woke up tonight I sad I’m gonna make somebody love me...». A minha mãe manda-me um daqueles olhares fulminantes: E«Ou mudas isso ou, Catarina Manuela Dias Costa, vamos ter uma conversinha...» lá coloco eu Gotan Project. «La Revancha del Tango». Eu sei que pelo menos de tango ela gosta, e assim se chega a um compromisso entre as duas partes.
Depois é sempre a mesma conversa…
«Então os estudos? Quando é que acabas o curso? Já escolheste a especialidade? Ouvi dizer que oftalmologia dá muito dinheiro». Ao que eu respondo «Hum, hum… e tem também a maior taxa de suicídios da comunidade médica…» Nunca ninguém percebe…
«Então e tens namorado? Não? » Ao que a minha família logo mete o bedelho: «Se calhar por uma vez arranjavas alguém da tua idade… um menino do teu curso…». Aí eu expludo… «Menino? E do meu curso? Eu nem me dou com aquela gente… Eu mal ponho os pés nas aulas… E menino? Mas qual menino? Eu agora sou a versão feminina do Bibi ou quê? Mas está tudo doido ou quê? Que eu saiba tu e o pai tinham 13 anos de diferença logo não podes falar muito…» E lá vêm as visitas amainar o ambiente hostil que entretanto se criou entre mim e a minha mãe: «Vá lá, é Natal, não vamos discutir… muito menos por coisas tão triviais…». E pronto… ficamos de cara virada o resto da noite. «Vens a casa no Natal para me dar desgostos…».
Na manhã seguinte, inevitavelmente, vem-me acordar com um beijo, naquela do «Não é todos os dias que posso fazer isto à minha menina.». Eu detesto quando ela me chama de menina. Mas no dia de Natal quase que sabe bem…
Entretanto as visitas saíram às tantas da manhã cá de casa e a caminho de casa comentam que a Dona Judite é um amor de senhora, só é pena ter uma filha rebelde que se veste daquela maneira estranha, com vestidos por cima de calças e coisas assim do demo, e, o diabo o jure, se calhar até se mete na droga. E aquela franja… a miúda já cortava aquela franja…

1 comment:

André Morais said...

Não mudes miúda.
Adoro a tua franja!
E mãe é mãe, toda a gente a tem.
kiss