Monday, December 19, 2005

Murcof : Remembranza


Murcof (o dominante disfarce de Fernando Corona) desafia a predisposição nata da nuca mexicana para o ócio e promove a capacidade de memorizar como último recurso ao serviço da fantasia. Murcof parece empenhado em unir os pontos a uma nova realidade ficcionada. Fá-lo à maneira de Leonard Shelby em Memento: registando em polaroids musicais o que de mais espantoso descobre ao trajecto e tentando a partir daí encontrar uma saída ao centro do labirinto em que Remembranza encontra o personagem que um dia partiu à descoberta do acaso galáctico numa terça-feira ( no primeiro álbum Martes). Ao segundo disco de originais (se entendermos Utopia como um atalho), a bússola passa a ser uma roleta.
Remembranza consegue esforçadamente conservar uma noção da distância percorrida em espiral até ao centro da circunferência, mas é um disco absolutamente destituído de referências cardeais. Quando dá por si distante de todas as orientações periféricas, encontra salvação na nostalgia invisivelmente épica de “Rostro” (a faixa que faltou à banda-sonora de 21 gramas) e um bilhete de regresso à casa de partida na expurgação ambient de “Ruido”
.A maior dificuldade de Remembranza passa pelo desafio que constitui convencer-se a si mesmo de que são funcionais e firmes as memórias que o seu evoluir forjou (isto sem se beliscar com fatais interrupções de audição ou ruídos de fundo).
Remembranza é inesquecível, nem que seja apenas durante os seus 55 minutos de duração.

by: Miguel Arsénio (sim... porque eu não ando aqui para plagiar ninguém...)

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